Mulher, negra, mãe. Fau Ferreira é formada em filosofia e produção audiovisual, e especialista em marketing. Fundadora e CEO do Afroempreendendo, uma empresa social que oferece conteúdo transformador para os empreendedores, através da geração de resultados para seus negócios.

Fau costuma dizer que empreende desde que se entende por gente, acompanhando sua mãe nos diversos negócios que ela teve: “costumo dizer que ela é formada em ‘sivirologia’, pois atuou e ainda atua em diversas áreas e eu fui aprendendo”.

Quando entrou na universidade Fau começou a empreender por conta própria, através de vendas por catálogos, para ‘bancar’ os custos da formação e a partir daí não parou mais. Mas foi com a criação do Afroempreendendo que passou a entender que empreender era seu propósito. Nesta entrevista a empreendedora Fau Ferreira fala sobre sua história, desafios e motivações.


Como surgiu a Afroempreendendo e quais tipos de serviços à empresa disponibiliza?

O Afroempreendendo surgiu em 2016, por conta da percepção de uma demanda de mercado que não existia um número relevante de pessoas negras produzindo e compartilhando conteúdos sobre negócios, empreendorismo e desenvolvimento profissional.

Então, criei o blog Afroempreendendo com a intenção de ser um canal de conteúdo de pessoas pretas para pessoas pretas, a partir das nossas vivências e com a nossa linguagem. A partir daí comecei a ser chamada para palestras e oficinas em diversas instituições.

A partir da sua percepção de uma necessidade do mercado você criou a Afroempreendendo, quais estratégias utilizou para se inserir no mercado?

O Afroempreendendo já surgiu da observação de uma demanda de mercado e uma lacuna, o fato de termos 51% de empreendedores negros no Brasil e não ter muitos cursos e consultorias voltadas exclusivamente para esse mercado. E depois eu consegui desenvolver uma visão de longo prazo pensando nos serviços e produtos que eu poderia oferecer para garantir a sustentabilidade do meu negócio, além de definir missão, n visão e valores que me ajudam na tomada de decisões e no caminho a seguir.

Organização do empreendimento, é a chave para a busca por boas oportunidades de negócio? Você percebe dificuldades em conseguir financiamento em relação a empreendimentos de donos brancos?

Não é uma realidade do meu negócio por que ele não exige no formato atual um grande investimento financeiro. Mas é uma realidade muito comum aos meus clientes. Os empreendedores negros, em especial as mulheres, relatam uma grande dificuldade em conseguirem créditos principalmente em instituições bancárias tradicionais. E também é visível nos ambientes de startups, ecossistemas de inovação, acesso a investidores que o perfil encontrado nesses ambientes é o de empreendedores brancos, em sua maioria homens.

O aumento dos negros enquanto empreendedores pode ser uma saída para a melhoria das condições sociais dessa população?

Os negros já são a maioria dos empreendedores há algum tempo e depois do surgimento do MEI, que possibilitou a formalização desse público, esse número pôde ser medido.

Porém, isso não reflete em melhores condições sociais visto que a maioria dos negros empreendem por necessidade e em atividades mais simples. Precisamos ainda fomentar o desenvolvimento desses negócios e proporcionar conhecimentos e condições para que os empreendedores consigam crescer seu empreendimento contratando mais pessoas, gerando mais rendas para a sua e outras famílias negras. E ainda desenvolvermos mais soluções coletivas entre os empreendedores negros. O empreendedorismo por si só é um caminho para a autonomia, podemos construir nossos horários, nosso salários, por outro lado ainda temos dificuldade em conseguir apoios e grana para nos desenvolver.

Com essa articulação acredito sim que conseguimos transformar a realidade do povo negro brasileiro. Sem falar que atuamos muito em negócios sociais que buscam justamente em soluções para as maiores dificuldades do povo negro principalmente periférico.

“buscar conhecimento para aprimorar suas habilidades e desenvolver seu negócio, depois construir uma rede com outros empreendedores negros que possam te apoiar.”

Falando em articulações e prospectando o protagonismo no Brasil, no que diz respeito a empresas geridas por negros e especializadas em atender essa população – assim como a Afroempreendendo. Quais suas referências?

Minhas referências são muitas mulheres negras empreendedoras, em primeiro lugar minha mãe e muitas outras como Adriana da Feira Preta, Carol das Negras Plurais, Camila da Óleos se Mi, Eurides da Libras Mais, Karine da Wakanda, Monique Evelle da Inventivos, Sauanne da Identity Travel, e diversas empreendedoras ainda sem destaque midiático com quem eu tenho oportunidade de trocar todos os dias.

Em 2020, com a pandemia, os negócios precisaram se adaptar a nova realidade. Como a Afroempreendendo vêm passando por esse período?

Eu já tinha entendido a necessidade dos negócios atuarem no digital muito antes de 2020 e já tinha construído certa imagem e autoridade no digital, então pra mim foi mais fácil. Foi só adaptar os cursos que eu realizava presencial para o online. E consegui fazer isso através da realização da Maratona Criativa Digital e do Curso Coachteudo.

A médio e longo prazo, quais próximos passos da Afroempreendendo?

Um sonho que eu tenho a longo passo é construir um coworking para que possa ser um ambiente de apoio e desenvolvimento de empreendedores negros. E em médio prazo trabalhar com adolescentes negros para mostrar a eles o caminho do empreendedorismo, para quem quer ter autonomia na própria vida.

Como Fau Ferreira se prepara para os desafios do empreendedorismo e como lida com a vida pessoal? Existe a vida da Fau Ferrreira e existe a vida da empreendedora, como separar as atividades no dia-a-dia?

Primeiro é buscar conhecimento para aprimorar suas habilidades e desenvolver seu negócio, depois construir uma rede com outros empreendedores negros que possam te apoiar no Empreendorismo, precisamos cada vez mais nos aquilombar e, por fim, não desistir.

E, para mim, não dá pra separar. À Fau Ferreira empreendedora domina toda a minha vida, rsrs. Mas, sim, separo momentos de descanso e lazer porque senão, não dá para sobreviver. Como faço muitas atividades diversas é bem difícil conciliar e conseguir fazer tudo, mas tive que aprender a pedir ajuda e também buscar ferramentas de organização para me auxiliar.

Para maiores contatos, acesse: https://bityli.com/Oa6Gr


Por Lisia Lira

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